terça-feira, 8 de abril de 2014

ESTE PAÍS NÃO É PARA VELHOS

António Bravo
António Bravo escreve de acordo com a antiga ortografia

Resgatei o título desta crónica do nome de um filme que passou há poucos anos entre nós,
pois penso que é a síntese perfeita do assunto que hoje pretendo tratar.
Nas sociedades antigas e algumas modernas,tais como alguns povos africanos, os indianos e os
chineses, continua a ser dado um enorme valor aos velhos, considerando-os como uma mais-valia em
termos de saber feito e dos quais é de toda a utilidade conhecer e aproveitar a sua experiência de
vida como ensinamento para o futuro. Os chineses dizem que “cada vez que morre um velho é uma
biblioteca que arde”.Outro tanto não sucede nas sociedades ocidentais,
ditas modernas, onde os idosos são considerados um estorvo que consome e não produz, uma
bola de ferro presa ao tornozelo da sociedade que dificulta o seu avanço. Houve já quem em Portugal
chamasse aos reformados “a peste grisalha”, esquecendo-
se ou ignorando que foi essa mesma “peste”que devolveu a democracia a Portugal e criou as
condições para que os mais novos desfrutassem de uma sociedade moderna e com direitos, muito mais
justa e menos penosa do que aquela que os velhos actuais tiveram na sua juventude, pese embora a
situação económica com que o país hoje se debate.O próprio Governo tem, de forma despudorada,
tentado atirar novos contra velhos e tem feito desses mesmos velhos o “saco de pancada” das suas
medidas mais punitivas ao cancelar um conjunto de regalias de que beneficiava a terceira idade e
também cortando de forma brutal as pensões de reforma com contribuições especiais de solidariedade
(?!), temendo-se que tais malfeitorias não fiquem
por aqui. Talvez o propósito seja de que coma diminuição dos seus rendimentos os ditos velhos
fiquem com menos hipóteses de tratar de si e assim morram mais depressa.
E já que falamos em pensões de reforma, é bom que seja dito que tais retribuições não resultam,
na sua esmagadora maioria, de benesses especiais contratualizadas no acto da assinatura de um qualquer contrato de trabalho. Resultam sim de uma carreira contributiva de quarenta ou mais anos,
pelo que as ditas reformas não constituem uma esmola ” dada pela sociedade aos mais velhos, mas
antes uma devolução daquilo que por direito é seu e que eles foram descontando ao longo do tempo.
Evidentemente que quem considera a terceira idade um “peso morto” tem menos de cinquenta
anos e deve considerar-se imortal. Porém, as leis da vida são inexoráveis e também eles atingirão a
condição de velhos e certamente quando tal patamar for atingido não gostarão de ser considerados
objectos inúteis e produtos descartáveis e exigirão respeito e condições dignas de vida. “Deixem-os
pousar”… l

Evidentemente que quem considera a terceira idade um
“peso morto” tem menos de cinquenta anos e deve
considerar-se imortal. Porém, as leis da vida são inexoráveis
e também eles atingirão a condição de velhos e certamente
quando tal patamar for atingido não gostarão de ser
considerados objectos inúteis e produtos descartáveis e exigirão
respeito e condições dignas de vida. “Deixem-os pousar”…
Este país não é para velhos
22 JUNHO

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