Esperando os bárbaros
Devido ao enorme sucesso — e mesmo glória — que teve a participação deste inimitável blogue numa sessão poética no restaurante “Povo”, segunda feira passada, para mais acompanhados com o contrabaixo de Nuno Faria, e devido à atualidade do tema, aqui deixo um poema de Konstantin Kaváfis, um grego de Alexandria (nado e morto nesta cidade) que o escreveu em — imaginem — 1903.
Resta-me acrescentar que nesta grandiosa noite cultural organizada por Alex Cortez e Nuno Miguel Guedes, faltaram alguns elementos do EéT, certamente pela vergonha que teriam de estar lado a lado com vedetas como as que apareceram: Pedro Bidarra (capitão de equipa), Sandra Barata Belo, Teresa Conceição, Bernardo Vaz Pinto e eu próprio. Acrescento que alguns, como Pedro Marta Santos, Ivone Mendes da Silva, Eugénia de Vasconcellos e Rita Roquette de Vasconcellos tinham justificações mais do que atendíveis para faltar, pelo que me refiro, inteiramente a Pedro Norton e Manuel Fonseca. Aos dois dedico este poema de Kaváfis.
Esperando os bárbaros
Mas que esperamos nós aqui n’Ágora reunidos?
É que os bárbaros hoje vão chegar!
Mas porque reina no Senado tanta apatia?
Porque deixaram de fazer leis os nossos senadores?
É que os bárbaros hoje vão chegar.
Que leis hão‑de fazer os senadores?
Os bárbaros que vêm, que as façam eles.
Mas porque tão cedo se ergueu hoje o nosso imperador,
E se sentou na magna porta da cidade à espera,
Oficial, no trono, co’a coroa na cabeça?
É que os bárbaros hoje vão chegar.
O nosso imperador espera receber
O chefe. E certamente preparou
Um pergaminho para lhe dar, onde
Inscreveu vários títulos e nomes.
Porque é que os nossos dois bons cônsules e os dois pretores
trouxeram hoje à rua as togas vermelhas bordadas?
E porque passeiam com pulseiras ricas de ametistas,
e porque trazem os anéis de esmeraldas refulgentes,
por que razão empunham hoje bastões preciosos
com tão finos ornatos de ouro e prata cravejados?
É que os bárbaros hoje vão chegar.
E tais coisas os deixam deslumbrados.
Porque é que os grandes oradores como é seu costume
Não vêm soltar os seus discursos, mostrar o seu verbo?
É que os bárbaros hoje vão chegar
E aborrecem arengas, belas frases.
Porque de súbito se instala tal inquietude
Tal comoção (Mas como os rostos ficaram tão graves)
E num repente se esvaziam as ruas, as praças,
E toda a gente volta a casa pensativa?
Caiu a noite, os bárbaros não vêm.
E chegaram pessoas da fronteira
E disseram que bárbaros não há.
Agora que será de nós sem esses bárbaros?
Essa gente talvez fosse uma solução.
(tradução de Pedro Tamen)
Resta-me acrescentar que nesta grandiosa noite cultural organizada por Alex Cortez e Nuno Miguel Guedes, faltaram alguns elementos do EéT, certamente pela vergonha que teriam de estar lado a lado com vedetas como as que apareceram: Pedro Bidarra (capitão de equipa), Sandra Barata Belo, Teresa Conceição, Bernardo Vaz Pinto e eu próprio. Acrescento que alguns, como Pedro Marta Santos, Ivone Mendes da Silva, Eugénia de Vasconcellos e Rita Roquette de Vasconcellos tinham justificações mais do que atendíveis para faltar, pelo que me refiro, inteiramente a Pedro Norton e Manuel Fonseca. Aos dois dedico este poema de Kaváfis.
Esperando os bárbaros
Mas que esperamos nós aqui n’Ágora reunidos?
É que os bárbaros hoje vão chegar!
Mas porque reina no Senado tanta apatia?
Porque deixaram de fazer leis os nossos senadores?
É que os bárbaros hoje vão chegar.
Que leis hão‑de fazer os senadores?
Os bárbaros que vêm, que as façam eles.
Mas porque tão cedo se ergueu hoje o nosso imperador,
E se sentou na magna porta da cidade à espera,
Oficial, no trono, co’a coroa na cabeça?
É que os bárbaros hoje vão chegar.
O nosso imperador espera receber
O chefe. E certamente preparou
Um pergaminho para lhe dar, onde
Inscreveu vários títulos e nomes.
Porque é que os nossos dois bons cônsules e os dois pretores
trouxeram hoje à rua as togas vermelhas bordadas?
E porque passeiam com pulseiras ricas de ametistas,
e porque trazem os anéis de esmeraldas refulgentes,
por que razão empunham hoje bastões preciosos
com tão finos ornatos de ouro e prata cravejados?
É que os bárbaros hoje vão chegar.
E tais coisas os deixam deslumbrados.
Porque é que os grandes oradores como é seu costume
Não vêm soltar os seus discursos, mostrar o seu verbo?
É que os bárbaros hoje vão chegar
E aborrecem arengas, belas frases.
Porque de súbito se instala tal inquietude
Tal comoção (Mas como os rostos ficaram tão graves)
E num repente se esvaziam as ruas, as praças,
E toda a gente volta a casa pensativa?
Caiu a noite, os bárbaros não vêm.
E chegaram pessoas da fronteira
E disseram que bárbaros não há.
Agora que será de nós sem esses bárbaros?
Essa gente talvez fosse uma solução.
(tradução de Pedro Tamen)
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