sábado, 26 de setembro de 2015

ESPERANDO OS BÁRBAROS ?

Esperando os bárbaros


Devido ao enorme sucesso — e mesmo gló­ria — que teve a par­ti­ci­pa­ção deste ini­mi­tá­vel blo­gue numa ses­são poé­tica no res­tau­rante “Povo”, segunda feira pas­sada, para mais acom­pa­nha­dos com o con­tra­baixo de Nuno Faria, e devido à atu­a­li­dade do tema, aqui deixo um poema de Kons­tan­tin Kavá­fis, um grego de Ale­xan­dria (nado e morto nesta cidade) que o escre­veu em — ima­gi­nem — 1903.
konstantinos-kavafis
Kons­tan­tin Kaváfis
Resta-me acres­cen­tar que nesta gran­di­osa noite cul­tu­ral orga­ni­zada por Alex Cor­tez e Nuno Miguel Gue­des, fal­ta­ram alguns ele­men­tos do EéT, cer­ta­mente pela ver­go­nha que teriam de estar lado a lado com vede­tas como as que apa­re­ce­ram: Pedro Bidarra (capi­tão de equipa), San­dra Barata Belo, Teresa Con­cei­ção, Ber­nardo Vaz Pinto e eu pró­prio. Acres­cento que alguns, como Pedro Marta San­tos, Ivone Men­des da Silva, Eugé­nia de Vas­con­cel­los e Rita Roquette de Vas­con­cel­los tinham jus­ti­fi­ca­ções mais do que aten­dí­veis para fal­tar, pelo que me refiro, intei­ra­mente a Pedro Nor­ton e Manuel Fon­seca. Aos dois dedico este poema de Kaváfis.
Espe­rando os bárbaros
Mas que espe­ra­mos nós aqui n’Ágora reunidos?
É que os bár­ba­ros hoje vão chegar!
Mas por­que reina no Senado tanta apatia?
Por­que dei­xa­ram de fazer leis os nos­sos senadores?
É que os bár­ba­ros hoje vão chegar.
Que leis hão­‑de fazer os senadores?
Os bár­ba­ros que vêm, que as façam eles.
Mas por­que tão cedo se ergueu hoje o nosso imperador,
E se sen­tou na magna porta da cidade à espera,
Ofi­cial, no trono, co’a coroa na cabeça?
É que os bár­ba­ros hoje vão chegar.
O nosso impe­ra­dor espera receber
O chefe. E cer­ta­mente preparou
Um per­ga­mi­nho para lhe dar, onde
Ins­cre­veu vários títu­los e nomes.
Por­que é que os nos­sos dois bons côn­su­les e os dois pretores
trou­xe­ram hoje à rua as togas ver­me­lhas bordadas?
E por­que pas­seiam com pul­sei­ras ricas de ametistas,
e por­que tra­zem os anéis de esme­ral­das refulgentes,
por que razão empu­nham hoje bas­tões preciosos
com tão finos orna­tos de ouro e prata cravejados?
É que os bár­ba­ros hoje vão chegar.
E tais coi­sas os dei­xam deslumbrados.
Por­que é que os gran­des ora­do­res como é seu costume
Não vêm sol­tar os seus dis­cur­sos, mos­trar o seu verbo?
É que os bár­ba­ros hoje vão chegar
E abor­re­cem aren­gas, belas frases.

Por­que de súbito se ins­tala tal inquietude
Tal como­ção (Mas como os ros­tos fica­ram tão graves)
E num repente se esva­ziam as ruas, as praças,
E toda a gente volta a casa pensativa?
Caiu a noite, os bár­ba­ros não vêm.
E che­ga­ram pes­soas da fronteira
E dis­se­ram que bár­ba­ros não há.

Agora que será de nós sem esses bárbaros?
Essa gente tal­vez fosse uma solução.
(tra­du­ção de Pedro Tamen)

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