terça-feira, 27 de outubro de 2015

ANÁLISE DE JOÃO J. VILA-CHÃ


ANALISE


18 h · Roma · Editado · 

Noto que o dia de hoje tem sido de agrume, e de não pouco picanço, no que diz respeito ao debate político que actualmente grassa no meu País, e até mesmo fora dele. Agrume e picanço que por certo, sendo a natureza humana o que ela realmente é, vai continuar. Pelo menos, até que o normal funcionamento das instituições venha a mostrar o limite do quanto-baste. Nesse sentido, e sem querer acrescentar nem a uma coisa nem à outra, permito-me partilhar aqui alguns dos comentários que por imperativo de opinião decidi fazer no espaço de outras pessoas, sendo que o primeiro tem a ver com a posição defendida por um certo comentador político e o segundo foi feito na página de um parlamentar de Portugal a respeito da inauguração das actividades da nova Assembleia da República. Se tal se oferecer, outros comentários irei acrescentando.

1. Tenho muita pena que os nossos comentadores de profissão, mesmo dizendo coisas pertinentes ou ajustadas à realidade, se esqueçam do que mais importa: o que está em causa é Portugal! O resultado das eleições é complicado; o PS tomou uma via triste porque, em meu entender, na direção errada; o Presidente da República decidiu o óbvio mas ao mesmo tempo deu as suas boas razões, mesmo se algo surpreendentes. O líder do PS ao bagatalizar a decisão do Presidente da República, para além de mostrar uma inacreditável sobranceria, e um baixo calibre no debate institucional, fez, ou faz, o que menos nos interessa: agudiza os conflitos, atua mais à força do ressentimento do que da razão propriamente política, sendo que por «política» entendo aqui uma atividade que deveria ser sempre séria e nunca um espaço para usurpadores ou agentes destemperados na palavra.

2. Os deputados e deputadas eleitos pelos cidadãos e cidadãs de Portugal têm agora uma enorme tarefa diante de si: dar a Portugal a razão de ser da confiança que neles e nelas, não raro sem se saber bem como, foi depositada. Pessoalmente, espero que os deputados e deputadas do meu País façam tudo o que se lhes exige para que Portugal cresça e se desenvolva, e em toda a sociedade portuguesa se consolidem os valores do Humanismo e do Direito, da Justiça e da Responsabilidade, do Progresso e da Paz social. Mais que tudo, espero dos actuais representantes parlamentares da cidadania em Portugal que nunca se esqueçam da razão de ser da sua representatividade, e que em meu entender, é sobretudo esta: a coerência com as exigências do dever que agora têm e hoje assumiram de servir a comunidade nacional, não apenas nesta ou naquela sua parte, mas no seu todo como no concreto mais global.

3. Eu posso não gostar do modo como o Senhor Presidente da República fala ou diz o que tem para dizer. Mas não posso aceitar que por o Presidente de Portugal ter dito o que realmente pensa e o ter feito com inusitada coragem e sentido de responsabilidade seja tão friamente atacado por comentadores políticos cuja responsabilidade não passa, na maior parte dos casos, da folha de jornal em que podem escrever ou do écran de televisão em que se podem mostrar. Pessoalmente, acho nobre, acho digno, acho bem mais do que adequado que o Presidente da República, ao indigitar quem indigitou, diga também a todos os portugueses a razão, ou as razões, que o levou a tal fazer. Não aceitar isto é transformar o Presidente da República num mero autómato. Neste caso, o Professor Cavaco Silva, e mais uma vez (mesmo que não se goste dele) mostrou ser quem é: o Presidente de todos os Portugueses, justificando-se perante todos, ou seja, perante os que dele gostam e perante os que não. E isso, em meu entender, é nobre, é correcto, merece o maior respeito.

4. [A propósito de quem diz que o Presidente da República não fez nem disse nada de bem, e tem especial prazer em confessar em quem não votou, mas sem nunca deixar de vilipendiar quem diz ser seu adversário, eu comentei:] E contudo não deixam de existir outros modos, outras maneiras, de interpretar, ou simplesmente acolher, e tal deveria ser com a justa elegância política, a decisão, tal como o discurso, que ontem fez o Presidente da República de Portugal. [Mas Portugal está assim: como que dividido ao meio entre o sentimento de que a democracia não é privilégio dos arruaceiros e a consciência de que nas palavras e nos gestos se vê, e se mede, o que as pessoas realmente são].

Tudo isto torna-se tanto mais importante quanto por aqui se vê o custo que a democracia tem. Haja, pois, a devida paciência: ninguém pode ser um grande democrata se a democracia apenas lhe serve para dilapidar o que não criou, pois pertence à esfera do nosso Bem Comum.

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